Museu Bajubá te convida a conhecer o patrimônio cultural LGBTQIAP+

Acervo busca refletir sobre a multiplicidade de corpos, experiências e vozes que
compõem esse unive
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Pajubá (ou Bajubá) é uma linguagem originada e ressignificada pela comunidade LGBTQIAP+, principalmente por travestis e mulheres trans, utilizada como forma de proteção social, resistência e afirmação de identidade. Influenciada pelo iorubá (nagô), a palavra significa “assunto, segredo, conversa, apresentação entre pessoas”. 

Nesta segunda edição da série especial do Arquivo Lésbico Brasileiro sobre museus voltados à diversidade sexual e de gênero, destacamos o Museu Bajubá. A iniciativa dá sequência à publicação anterior sobre o Museu Transgênero de História e Arte (MUTHA)

Com representatividade já em seu nome, o Museu Bajubá amplia os debates sobre a diversidade sexual e de gênero por meio de ações virtuais e presenciais que percorrem os territórios onde pessoas LGBTQIAP+ frequentaram, amaram, lutaram, resistiram – e, muitas vezes, também sofreram perdas. 

O Museu é comunitário, aberto a todas as pessoas. Sua curadoria combina a autoria individual de pesquisas com um processo coletivo de digitalização e disponibilização pública, resultando em exposições virtuais que tornam visíveis as memórias antes apagadas ou estigmatizadas. 

Além disso, o Museu Bajubá tem como marca sua constituição transversal: intergeracional, interétnica e sexo-diversa – refletindo a riqueza de vozes que compõem o universo LGBTQIAP+. 

A valorização do patrimônio cultural LGBTQIAP+ é entendida aqui como parte indispensável da memória coletiva brasileira. 

Conheça mais sobre a história do Museu Bajubá na entrevista abaixo: 

De que forma o museu contribui para ampliar o debate sobre as vivências LGBTQIAP+?

O Museu Bajubá contribui para a ampliação e a difusão dos debates sobre as vivências LGBTQIAP+, promovendo o diálogo sobre a história — passada e presente — da nossa população. Faz isso por meio de exposições virtuais, roteiros históricos (presenciais e virtuais) pela cidade do Rio de Janeiro, mesas-redondas, ações educativas, blog e um mapa interativo do patrimônio LGBTQIAP+. Todas essas iniciativas têm como foco os territórios que a nossa população frequentou, amou, lutou, resistiu e, muitas vezes, também sofreu perdas. Além das atividades no ambiente virtual, o Museu Bajubá realiza ações educativas presenciais em seu espaço social em Rio das Ostras (RJ), local que abrigará a sede da biblioteca física do Museu, aberta para consultas mediante agendamento. Todas essas ações têm um objetivo comum: visibilizar as diversas identidades LGBTQIAP+ e reconhecer as múltiplas contribuições da nossa população para a sociedade brasileira. 

Qual é a importância do museu para a comunidade LGBTQIAP+ — e, especialmente, para a população lésbica? 

A população LGBTQIAP+ encontra no Museu Bajubá um espaço virtual de diálogo, debate, educação, rememoração e valorização de marcos históricos e figuras emblemáticas da nossa trajetória. São exemplos disso personalidades como Cassandra Rios, Leci Brandão e Luana Barbosa, cujo bárbaro assassinato marcou profundamente todas nós. Também buscamos lançar luz sobre casos emblemáticos de violações de direitos humanos, como o de Rosana e Marli, ao mesmo tempo em que celebramos os avanços conquistados pela nossa população em termos de cidadania e reconhecimento. Em relação a Cassandra Rios, em particular, o museu tem se empenhado em sensibilizar o público quanto à situação precária de seus restos mortais e à urgência de preservar sua memória como patrimônio cultural LGBTQIAP+. 

Como é feita a curadoria do museu? 

A curadoria do Museu Bajubá é híbrida, voluntária, afetiva e política. Ela combina a autoria individual de pesquisas e propostas curatoriais — cedidas generosamente ao museu — com um processo de digitalização e disponibilização pública na forma de exposições virtuais. Esses conteúdos são articulados por meio de ações de mediação, como mesas-redondas, oficinas educativas e outras atividades de formação crítica. 

O museu é formado por pessoas especialistas em diferentes aspectos da história e das culturas LGBTQIAP+, todas engajadas nas causas da nossa população e na luta por uma cidadania plena, especialmente no campo da cultura e da memória.

Como instituição comunitária, o Museu Bajubá está aberto a parcerias, colaborações e contribuições diversas, mantendo sempre como horizonte a educação patrimonial e o fortalecimento de uma memória coletiva comprometida com os direitos humanos e a diversidade. 

Qual o diferencial do Museu Bajubá em relação aos museus mais tradicionais? 

Um dos principais diferenciais do Museu Bajubá é sua virtualidade e portabilidade: qualquer pessoa pode acessá-lo, assim como suas redes sociais e conteúdos digitais, de onde estiver. Outro diferencial fundamental é o compromisso com os territórios: o Museu ancora a história LGBTQIAP+ nos espaços que habitamos, devolvendo à paisagem das cidades a memória de presenças dissidentes que foram muitas vezes apagadas ou registradas de modo estigmatizado. Isso se traduz em ações como roteiros históricos, mapeamentos e exposições que ligam o passado e o presente de nossas culturas, lutas, afetos e resistências. Além disso, trata-se de um projeto comunitário, criado por integrantes da própria população LGBTQIAP+ para todas as pessoas interessadas, com atenção especial às vivências e demandas da nossa própria população. O Museu também se destaca por sua constituição transversal: ele é construído a partir de uma perspectiva intergeracional, interétnica e sexo diversa, refletindo a multiplicidade de corpos, experiências e vozes que compõem o universo LGBTQIAP+. 

Por fim, o Museu Bajubá tem como princípio estatutário — já em realização — a defesa e a valorização do patrimônio cultural LGBTQIAP+, entendido como parte indispensável da memória coletiva brasileira, exemplo disso é a luta pela salvaguarda e restituição do Cabaré Casanova (Lapa/RJ). 

Como o público pode acessar o acervo e os conteúdos do museu? 

O principal acesso ao Museu Bajubá se dá por meio do nosso site oficial e pelas redes sociais, onde publicamos conteúdos diversos, como eventos organizados pelo Museu, ou que as pessoas integrantes participam, as homenagens públicas a personalidades que contribuíram, cada uma a seu modo, para a visibilidade da nossa população e para a atualização das nossas culturas. No site são encontradas as exposições virtuais, organizadas por meio da plataforma Tainacan, o Mapa Interativo do Patrimônio LGBTQIAP+ e o Blog com os textos vinculados a alguns dos conteúdos do nosso Instagram. Todos os nossos conteúdos são disponibilizados gratuitamente, reafirmando o compromisso do museu com o acesso democrático à memória e ao patrimônio cultural LGBTQIAP+, fortalecendo a cidadania cultural da nossa população.