O Museu Bissexual Brasileiro (MBB) surge como um projeto de comunicação científica dedicado a preservar e dar visibilidade à história e memória da bissexualidade no Brasil. A iniciativa, que se estrutura a partir do desdobramento do doutorado do pesquisador Inácio Saldanha, busca preencher uma lacuna histórica, confrontando a ideia de que a bissexualidade não possui uma trajetória documentada. Por isso, o MBB propõe a reunir e organizar fontes, documentos e materiais dispersos, além de provocar reflexões sobre como essa história pode ser escrita e seus limites.
O acervo do MBB está em construção e, em breve, poderemos ter acesso a um blog que reunirá materiais como jornais, documentos e outras fontes históricas. Além disso, o projeto prevê o lançamento de uma revista com textos em diversos formatos: acadêmicos, literários, imagens, quadrinhos, a fim de ampliar o debate e a representatividade da bissexualidade.
O museu, assim, se constitui como um conceito aberto e que vai além de um espaço físico, já que inclui uma gama de possibilidades para enriquecer e documentar a memória bissexual brasileira.
Conheça mais sobre o projeto na entrevista abaixo:
Como surgiu a iniciativa?
É importante mencionar que o Museu Bissexual Brasileiro (MBB) não é a primeira iniciativa voltada para a memória bissexual no Brasil. Ele foi criado como um projeto de comunicação científica da pesquisa de doutorado que Inácio Saldanha está desenvolvendo na Unicamp, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), sobre categorias que remetem à atração por pessoas de mais de um gênero no Brasil. Mas o projeto vai além e se propõe a reunir e divulgar acervos e narrativas que hoje se encontram dispersos e com pouca circulação. O MBB foi pensado como um museu por ser um conceito aberto e que vai muito além de um espaço físico com exposições, incluindo acervos, parcerias, ideias, comunicações e produções originais.
De que forma o museu contribui para ampliar o debate sobre as vivências LGBTQIAP+?
Inicialmente com uma página no Instagram, o MBB deve lançar até o fim deste ano um blog com acervo histórico disponível e uma revista digital focada em bissexualidades. Essas são estratégias para ajudar a sanar uma lacuna na memória disponível sobre LGBTQIAP+ no Brasil. A presença histórica das pessoas bissexuais não apenas é afetada pelo apagamento, mas pode nos ajudar a entender outras lacunas, como as identidades no contexto da epidemia de HIV/Aids, as mudanças geracionais, a emergência da pansexualidade e de outras identidades menos conhecidas. Dessa forma, é importante para enriquecer a memória LGBTQIAP+ e o conhecimento sobre essa população de forma mais ampla.
Qual é a importância do museu para a comunidade LGBTQIAP+ — e, especialmente, para as memórias que interseccionam lesbianidades e bissexualidades?
O MBB se propõe a contribuir para a visibilidade das pessoas bissexuais e de sua história, mas sem apartá-las da comunidade LGBTQIAP+ ou da sociedade em geral. Ao contrário, o projeto está interessado na participação e inserção dessas pessoas em contextos mais amplos de nossa história. Um exemplo importante é o da proximidade das comunidades e movimentos de lésbicas e mulheres bissexuais, que têm sido fundamentais para a organização de bissexuais (um movimento profundamente protagonizado por mulheres no Brasil e no mundo).
Como é ou deve ser feita a curadoria do museu?
Apesar de ligado a um projeto de pesquisa, trata-se de uma curadoria sensível e feita em parceria com pessoas que atuam como ativistas, pesquisadoras e comunicadoras. O primeiro passo é reunir acervos que já estão disponibilizados livremente, mas separadamente, como imprensa bissexual e documentos politicamente relevantes. Além disso, há um acervo crescente de pesquisa que inclui centenas de fotos, documentos e vídeos, em processo de catalogação. Por fim, espera-se que o MBB possa receber e ajudar a salvaguardar acervos de coletivos e ativistas, a serem disponibilizados ao público apenas com as condições dos autores ou criadores desses materiais, quando for o caso.
Qual o diferencial do Museu Bissexual Brasileiro em relação aos museus mais tradicionais?
Nós vivemos um momento de multiplicação de projetos de memória e de ampliação do conceito de museu. O MBB se difere do que seriam museus mais tradicionais por se dedicar a uma comunidade sem pensá-la como um grupo fechado e definido, e por não se situar em um único espaço (nem mesmo virtual). Porém, o projeto não antagoniza com os outros museus e faz parte de um movimento coletivo que provoca os museus mais tradicionais em seus processos de reimaginação.
Como o público pode acessar o acervo e os conteúdos do museu?
Até o fim de 2025, será disponibilizado o blog do MBB com um acervo disponível para consulta, além de textos que chamam atenção para aspectos históricos das bissexualidades no Brasil. No mês da visibilidade bissexual (setembro), foi lançada a página no Instagram (@museubissexualbr) para divulgar informações e reflexões relevantes para essa história, com imagens e indicações de referências para quem quiser saber mais sobre o tema. As pessoas também podem entrar em contato por museubissexualbr@gmail.com.

