Em um papo super descontraído, Lalão fala sobre suas referências musicais e como figuras femininas ajudaram a moldar sua identidade artística no funk. A artista expressa de forma direta e autêntica suas vivências e amores, abordando temas que refletem sua realidade e a de outras mulheres. Lalão também compartilha com o ALB a constante necessidade de provar seu talento na cena e a resistência aos papeis pré-estabelecidos para mulheres nesse gênero.
Você pode começar se apresentando um pouco? De onde você é, onde cresceu?
Eu nasci e cresci em Taboão da Serra. Morei um ano no interior só, mas o resto da vida foi tudo em Taboão da Serra.
E quando a gente fala de influências, tanto na música quanto na vida, quem são os nomes que te marcaram?
Eu me inspiro em vários artistas, né? Desde o funk, o rap… Mas acho que grandes referências femininas minhas são Queen Latifah, Dina Di, Atitude Feminina e Cris SNJ. São referências importantes pra minha construção como artista.
Como é ocupar a cena do funk como uma mulher lésbica?
É falar: eu existo, eu tô aqui. Nada do que falarem ou fizerem vai me tirar daqui, porque eu entendo que esse é o meu lugar como funkeira e lésbica. E estar numa cena dominada por homens, majoritariamente héteros, é reafirmar minha presença. Eu existo, tô aqui, e poucas.
E como é pra você colocar essas vivências com outras mulheres nas letras, no som…?
O fato de eu ser lésbica no funk já é muita fita, né, mano? Eu não faço “funk lésbico” ou “funk sáfico”. Eu faço funk. Mas, eu canto sobre mulher o tempo todo nas minhas músicas. Seja pra falar que eu tenho que encontrar uma mina, ou cantar pra uma mulher, fazer uma música pra uma mulher. Isso é quem eu sou. Eu sou funkeira e gosto de mulher, e levo isso pra minha música também. Sempre falo que, quando as pessoas me veem, antes de tudo, elas veem uma sapatão. Não veem a Larissa ou a MC Lalão, elas veem uma sapatão. Eu carrego isso comigo.
Quais foram os momentos mais desafiadores nesse caminho, principalmente no começo da sua trajetória no funk?
No começo eu tinha muito que provar que eu sabia cantar. Acho que isso acontece muito com mulheres no funk. O papel da mulher no funk é aquele que a gente já conhece: da mulher sexualizada, rebolando, sempre nesse lugar.
Mas as mulheres no funk fazem várias outras coisas. Tem mulher puxando bonde, tem o Na Frente Nacional Mulheres do Funk, tem mulher filmmaker, produtora, produtora musical, produtora de artista… A mulher tá em todos os lugares dentro do funk. E aí, sair desse papel tradicional e não cantar funk hétero também muda muita coisa. Eu não tô cantando putaria de homem pra mulher, sabe?
Meu som é outro, minha vivência é outra. E entender que meu lugar é esse que tá tudo certo, foi essencial. Nunca me senti brecada por nada, mas existem olhares, gente que pergunta: “Quem é essa mina?“. Mesmo assim, sempre fui muito respeitada, isso eu não posso negar.
Tem alguma música que você sente que traduz bem sua vivência como sapatão no funk?
Acho que Mandraka Siliconada representa muito isso. Eu tô cantando sobre uma mulher que gosta de moto, que dá grau. O clipe foi feito por mulheres, só tinha mulher no elenco. Tinha mulher lésbica, tinha mulher bissexual. Essa música representa muito esse lugar de dizer: “eu sou sapatão mesmo, sou lésbica”.
Olhando pra frente, o que vem por aí? Tem planejado algo novo?
Esse ano eu tô com bastante projeto musical. O principal é o EP que tô produzindo, que vai sair em breve. Antes disso ainda tem algumas músicas pra serem lançadas. Esse EP é bem importante porque conta minha trajetória e da minha vida. Vai ser um trabalho muito importante, sabe?